quinta-feira, setembro 21

O Pastor (parte II)

A aldeia tinha um silêncio arrepiante, aspecto cinzento, mas havia um cheiro a lenha queimada, e a comida ao lume, fiquei logo nesse instante com agua na boca, o cheiro era delicioso, bifes grelhados de certeza, continuei em busca daquele aroma saboroso, estava com fome, e desgastado com aquela situação do Tito. Ao passar por uma velha casa escondida num recanto vi uma pessoa idosa que não parecia nada preocupada com o que se passava, e perguntei-lhe:
- Bom dia, então a senhora não está a par do que se passa?
A senhora respondeu de uma forma tranquila e assertiva:
- Bom dia jovem, sei sim, mas não acredito em nada, e aliás já sou muito velha para fugir e se tiver que morrer que morra aqui no meu lar.
Bem, ao ouvir isto, fiquei seguro das suas palavras, mas cheio de fome, e cheirava tão bem que disse descaradamente:
- Cheira bem (disse eu em tom de oferecido), o que é o almoço?
A senhora Teresa (era esse o nome dela) muito simpática e com um sorriso cheio de ternura, disse:
- É migas com bife grelhado, não precisa de pedir, porque vou já buscar um prato para o menino, eu até gosto muito de almoçar acompanhada.
E assim foi, almoçamos os dois, conversamos muito, ela contou-me histórias da sua vida, como tinha ficado viúva, que os filhos tinham emigrado, ficamos duas horas à conversa, nem dei pelo tempo passar, era excelente conversadora e muito simpática, mas tinha de continuar a minha busca pelo Tito, agradeci e despedi-me da senhora Teresa.
Continuei muito mais aconchegado pela companhia da velhota, estava a começar a chover, e abriguei-me no alpendre de uma casa vazia, o dia ficou escuro e melancólico, mas o mais estranho é que não via nenhuns sinais de exércitos, só ouvia a chuva a cair e alguns animais domésticos, um cão veio ter comigo, encharcado, com um ar sozinho, a coxear, despi o meu casaco, limpei-lhe a agua, e tapei-o com o casaco, pobre animal, estava a tremer de frio, era um cão pastor, pensei logo no Tito, talvez fosse o guarda do seu rebanho, e ficamos ali os dois a falar com o olhar. Dei-lhe o nome de King, pois tinha um ar imperialista. Já não chovia e seguimos viagem até á próxima aldeia, o king ia sempre á frente, talvez me quisesse guiar para algum sítio, a meio da viagem ele parou e começou a comer ervas à borda da estrada, dei uma gargalhada enorme, o king olhou para mim com um ar envergonhado, e vomitou, estava apenas a limpar o estômago, muitos animais utilizam este método, fiz-lhe festas para pedir desculpas, seguimos a nossa travessia, e lá chegamos. Esta aldeia tinha algumas pessoas na rua, e tudo parecia normal, havia várias árvores à entrada, era um sítio com muita luz, e entramos na aldeia. (continua)

1 comentário:

Anónimo disse...

Felizmente há quem escreva bem, mesmo bem na net, e felizmente sem erros ortográficos.

Beijinhos para ti