terça-feira, outubro 11

A janela

Daquele quarto quadrado eu via a vida dos outros, correndo apressados com fatos cinzentos como se fugissem da morte. Daquelas quatro janelinhas cortadas, divididas por uma cruz milimetricamente traçada eu observava curiosa os casais de namorados de mão dada a contar os segredos que eu imaginava ouvir, quando me olhavam de soslaio eu fugia. Daquela janela para fora eu sentia coisas impossíveis de sentir estando lá fora, eu imaginava, criava histórias de príncipes e de fadas. Quando alguém me via eu passava a pertencer às minhas histórias, isso era algo impensável, pois era um simples narrador. Quando chovia ouvia orquestras de pingos em sinfonia, uns a marcarem o compasso, outros a solar com o vento ruidoso. À noite ficava absorvida pela lua, sonhava em ser mulher, em namorar, em ouvir segredos que me fizessem tremer as pernas como se fossem duas árvores frágeis. 


Num dia quente de primavera uma menina da minha idade, não devia ter mais de 12 anos, aproximou-se da minha janela, do meu mundo, e ficou uns breves segundos curiosa a olhar para mim, eu tinha uma imagem angelical, de um ser puro que ainda não tinha deixado entrar maldades nem pensamentos destrutivos, o meu mundo eram histórias que acabavam sempre com um final feliz, ela ficou ali com uma admiração fantasmagórica que me deixava desconfortável. No dia a seguir ela voltou, falou comigo para eu ir passear com ela, eu fui e a partir desse momento deixei de ser menina e tornei-me numa mulher implacável num mundo que de admirável não tem nada. Aquele meu mundo de anjos, borboletas, notas musicais a voar e de sonhos acabou quando aquela menina me fez sair lá para fora. Agora um carro que podia ser uma carruagem puxada por quatro cavalos pomposos não era mais que um simples carro, a casa em frente que era um lindo castelo medievel não passava de uma simples casa, aqueles namorados que eu imaginava a segredarem não passavam de um casal cheio de problemas a discutir. Agora eu tornava-me história de uma janela de alguém

quinta-feira, maio 14

Quando falo no vazio do quotidiano, refiro-me à banalidade do estilo de vida da maioria das pessoas, vivem numa aparente felicidade, realização pessoal, a felicidade não pode nem deve ser um estado individual, mas sim um estado universal. A estrutura das sociedades modernas esta feita para a felicidade individual, é a que mais convem as forças poderosas, esse tipo de felicidade é mais fácil de controlar e de gerir, torna-se quase impossivel uma pessoa libertar-se da teia que a envolve. A satisfação pessoal tornou-se em algo futil e material na maioria dos casos. Alargando um pouco os horizontes e deixando o nosso ego a sofrer é facil perceber isto, basta olhar para as coisas sem desejo para ver o que realmente elas são. As sociedade modernas estão corrumpidas, o culto do "eu" é errado e torna as pessoas em algo que elas não são. Não deixo de dizer isto com alguma tristeza, mas a evolução individual nunca acompanhou a evolução tecnológica.

..."Um homem será tolo se alimentar desejos pelos privilégios, promoção, lucros ou pela honra, pois tais desejos nunca trazem felicidade, pelo contrário, apenas trazem sofrimentos." (Sakyamuni).