quinta-feira, maio 31



Vestígios



noutros tempos


quando acreditávamos na existência da lua

foi-nos possível escrever poemas e

envenenávamo-nos boca a boca com o vidro moído

pelas salivas proibidas - noutros tempos

os dias corriam com a água e limpavam

os líquenes das imundas máscaras



hoje

nenhuma palavra pode ser escrita

nenhuma sílaba permanece na aridez das pedras

ou se expande pelo corpo estendido

no quarto do zinabre e do álcool - pernoita-se



onde se pode - num vocabulário reduzido e

obcessivo - até que o relâmpago fulmine a língua

e nada mais se consiga ouvir



apesar de tudo

continuamos e repetir os gestos e a beber

a serenidade da seiva - vamos pela febre

dos cedros acima - até que tocamos o místico

arbusto estelar

e

o mistério da luz fustiga-nos os olhos

numa euforia torrencial

/Al-Berto/

sexta-feira, maio 18


Hipnótico sentir

Vieste na bruma, como um puma,
fizeste-me amor, sem dor, ou pudor,
corremos pelas estrelas, presas da paixão, na imensidão
nos revemos, em dilemas
esquemas, tu és a minha luz!

Princesa, deixa-me levar-te,
para o meu mundo, onde não há rumo,
e a noite brilha, contigo é mais simples,
és o ar que respiro, suspiro,
e admiro.

Princesa, o nosso primeiro beijo,
tanto desejo, sem ar
e medo,
mas quimica, com mimica,
na luz, e no fogo,
hipnótico sentir,
dias de folgor
que me fez remar, amar, abraçar
levar-te para o meu mundo,
bem fundo.

Princesa deixa-me levar-te,
para o meu mundo, onde não há rumo,
e a noite brilha, contigo é mais simples,
és o ar que respiro, suspiro,
e admiro.

Quero-te a meu lado,
princesa...


terça-feira, maio 15


a viagem continua.
lenta. ritmada.
o cego canta!
o dia cinzento.
pressa. olhares. sonhos.
movimento. sonolento.
sem pensar. nada. em tudo.
coragem. ruas escuras. húmidas.
cheiros. conversas sem sentido.
fugas para o ceu. infernos.
gazes. nuvens negras.
vozes estranhas a rugir.
estradas ensanguentadas.
medo. pânico. terror.
garras afiadas.
o cego canta!
não vê.

terça-feira, maio 8


Saí pela noite
em busca do velho sábio
aquele que transmite ventos e marés
que nos faz sonhar pela madrugada
que resiste ao tempo...

Oh meu mestre ensina-me os segredos da vida
a ser maior que o meu corpo
a não me corroer ao ódio
a morrer com dignidade
a gritar em silêncio
na paz das valquírias.

Que as almas não se transformem em minusculos piroclastos
que dos ceus chovam fluoritas sobre os homens cruéis
que a energia da terra liberte o âmago divino
que a paz esteja contigo meu irmão.



domingo, maio 6


Vi-te do meu castelo
estavas fechada no teu mundo
olhas-te para mim
procuravas algo
a tua pele escura
com o piercing brilhante
atraía-me que nem um corvo seduzido
escrevias não sei o quê
eu curioso tentava perceber
eram palavras mágicas
como o teu olhar...
espero ver-te amanhã princesa.

quinta-feira, maio 3


Fico admirado quando alguém, por acaso e quase sempre
sem motivo, me diz que não sabe o que é o amor.
eu sei exactamente o que é o amor. o amor é saber
que existe uma parte de nós que deixou de nos pertencer.
o amor é saber que vamos perdoar tudo a essa parte
de nós que não é nossa. o amor é sermos fracos.
o amor é ter medo e querer morrer.

In “A Criança Em Ruínas”, José Luís Peixoto

terça-feira, maio 1


Ela entrou dentro de mim
não estava preparado.
Atacou-me em força
as defesas tentaram reagir
sem sucesso.

(estou engripalhado)